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Capítulo 3

- Eu também estou fazendo isso pelo bem da família Frota. - Davi tomou um gole d'água, sua voz era um tanto sombria. - A aliança entre a família Frota e a família Amorim não pode se romper. Você esteve ao lado do Joaquim por três anos e não teve filhos, não conseguiu segurar o coração dele e também não trouxe benefícios para a família Frota. Agora, com a volta da Lorena, considerando o relacionamento dela com o Joaquim, nada disso será um problema. Também tenho dinheiro para garantir um cuidado melhor para sua mãe.

Melissa ficou chocada mais uma vez com a falsidade de Davi. Ela lembrou:

- Por que a Lorena foi para o exterior? Você esqueceu, achou que a família Amorim também tinha esquecido?

- Então, é por isso que você deve se divorciar do Joaquim. - Disse Davi, sem vergonha.

Melissa entendeu o plano deles. Ela cedeu o lugar voluntariamente, e Lorena aproveitou a oportunidade para subir na vida, só que os benefícios eram todos da família Frota.

Depois de um momento de silêncio, Melissa falou:

- Eu posso me divorciar, mas tenho uma condição. Eu quero a parte da minha mãe na empresa, a parte que ela merece.

O rosto de Davi ficou instantaneamente sério.

Naquela época, a família Frota era relativamente harmoniosa. Davi veio de uma família pobre e conseguiu enriquecer facilmente com o negócio de confecções, graças ao casamento com Cecília Moura. Mas Cecília acabou cortando relações com a família Moura por causa disso.

Foi só quando Lúcia apareceu com os dois filhos que Cecília percebeu o quão errada estava.

Ela sofria de depressão crônica, que só piorou com o tempo.

Foi nessa época que Davi mencionou o divórcio.

Na hora da divisão dos bens, ele disse que a fábrica faliu e todos os ativos foram usados para pagar as dívidas. Cecília praticamente não recebeu nada.

Mas logo após o divórcio, a empresa de moda voltou a funcionar. O pior foi que Davi insistiu em pagar as despesas médicas da Cecília, o que rendeu muita reputação a ele.

Só que Melissa só entendeu isso tudo quando cresceu, percebendo que sua mãe foi enganada, tinha vontade de ajudar ela a recuperar suas coisas.

Os três seguiram caminhos diferentes.

Melissa fechou a porta e afundou no sofá, olhando fixamente para a escuridão lá fora, perdida em seus pensamentos.

A luz da manhã começou a iluminar a sala. Melissa estendeu a mão para bloquear a luz, levando um tempo para se acostumar antes de finalmente se levantar sonolenta.

Uma onda de náusea a atingiu de repente, deixando ela muito desconfortável.

Joaquim não voltou para casa na noite anterior.

Melissa não conseguia entender seus sentimentos, parecia que estava acostumada, mas também havia um pouco de decepção. No entanto, era um sentimento de alívio.

Parecia que depois de decidir deixar tudo para trás no dia anterior, ela finalmente havia desistido por completo.

Melissa se deitou novamente.

O som da fechadura eletrônica sendo aberta veio da porta.

Melissa olhou para cima e viu Lorena entrando elegantemente, usando um conjunto de alta costura, com um sorriso radiante no rosto.

- Melissa, quanto tempo!

Melissa se levantou lentamente, se sentando no sofá com um olhar de repugnância:

- Quem te mandou aqui? Some daqui!

Lorena sorriu ainda mais:

- Naturalmente foi o Joca quem me mandou. Ele estava comigo no hospital ontem à noite, logo cedo foi para a empresa e pediu para eu pegar um conjunto de roupas para ele.

O semblante de Melissa inevitavelmente mudou.

Ele realmente passou a noite com Lorena.

Ela ficou lá, sentada no sofá, esperando por ele a noite toda, só por causa daquela frase dele: "Depois a gente conversa."

- Você é igualzinha sua mãe, adora ser a amante do relacionamento. - Disse Melissa com raiva.

- Quem é a amante afinal? A amante é quem não é amada. - Lorena riu. - O Joca até coloca meu aniversário como senha eletrônica. Ele não me esqueceu. Melissa, nesses três anos, ele sempre abriu a porta com a minha data de nascimento. Imagino que você não se sinta muito bem com isso, não é?

Os olhos de Melissa tremeram ligeiramente, ela apertou firmemente o cobertor ao redor de si.

Ela respirou fundo e sorriu lentamente:

- A tecnologia lá fora é tão atrasada? Nós usamos reconhecimento facial para abrir as portas agora, no mínimo é a impressão digital. Senhas digitais já estão ultrapassadas.

Lorena entendeu instantaneamente o que ela quis dizer, seu sorriso ficou momentaneamente tenso:

- Se está ultrapassado ou não, só conta o que Joca disser.

Melissa não estava com vontade de brigar com ela.

A sensação de enjoo da gravidez a deixava muito desconfortável.

Ela apontou para o quarto de Joaquim e disse:

- As coisas estão lá dentro, pegue você mesma.

Lorena sorriu triunfante e entrou no quarto, logo voltou segurando as roupas.

Antes de sair, ela foi até Melissa, levantou a mão e um anel de diamante delicado chamou a atenção, assim como o curativo rosa em seu dedo.

- Minha mãe me disse que você não quer se divorciar. Não acha isso engraçado? - Ela se aproximou de Melissa e continuou. - Joca já me pediu em casamento. Por que se rebaixar tanto? Seja sensata. - Ela se inclinou para mais perto de Melissa, dizendo. - De qualquer forma, desde pequena, você não tem nada que possa me tirar.

Memórias antigas inundaram sua mente. As coisas que ela gostava, seus professores, seu pai, sua família... Tudo foi roubado por Lorena com apenas algumas palavras.

Melissa semicerrou os olhos, de repente estendeu a mão e arrancou o curativo do dorso da mão de Lorena.

- Você gosta tanto de roubar minhas coisas, não é?

Ela olhou para a mão de Lorena, sem ferimentos, e jogou o curativo no lixo com nojo.

- Band-Aid usado pode jogar fora. Compre outro, será novo novamente. Mas você sabe o que é mais assustador em um homem divorciado pela segunda vez? - Melissa se levantou lentamente, olhando nos olhos de Lorena, e sorriu levemente. - É o rastro deixado pela outra mulher. Não importa o que ele vista, use, coma, pense, sem exceção, ele sempre carregará a sombra da ex-esposa. Reflita sobre isso. Boa sorte.

- Melissa! - Lorena estava tão irritada que mal conseguia articular as palavras.

Melissa a ignorou, pegou uma bolsa ao lado cheia de roupas e a empurrou para Lorena.

- Vai devagar, sem despedidas!

Dentro do carro a caminho da empresa, Lorena bateu no volante com raiva, as palavras de Melissa ecoavam em sua mente.

Nesse momento, o celular tocou.

Lorena atendeu com uma voz mal-humorada:

- Logo de manhã cedo, o que foi agora?

A assistente Nanda Valente do outro lado ficou surpresa, por um momento, antes de dizer com cuidado:

- Srta. Lorena, o departamento de planejamento trouxe uma nova demanda de personagens, querem adicionar um ilustrador, eles já até escolheram.

- O que quer dizer com “eles já até escolheram”? Ilustração é assunto de artes visuais, o planejamento não pode ficar se intrometendo, entende?

Nanda ficou em silêncio.

Lorena fez um bico, contendo sua raiva interior:

- Tudo bem, estarei na empresa em breve, eu mesma vou falar com eles.

Quando chegou à empresa, Lorena não foi para o departamento de projetos, mas subiu até o último andar para entregar roupas a Joaquim.

Joaquim pegou as roupas, mas franziu levemente o cenho.

Lorena sentiu um aperto no coração e perguntou baixinho:

- O que foi? As roupas não estão certas?

Claro que não estavam. Nem era a marca que ele costumava usar.

Melissa não cometeria um erro assim.

- Quando você foi lá, a Melissa não estava?

Ao ver a marca das roupas diferente do que Joaquim estava usando, Lorena percebeu imediatamente que havia pego as erradas.

De repente, as palavras de Melissa vieram à mente dela novamente.

Ela mordeu o lábio, mostrando sua frustração:

- Quando cheguei lá, Melissa simplesmente me entregou as roupas e me expulsou. Você sabe, a Melissa nunca gostou de mim. - Ela suspirou resignada e continuou. - A Melissa realmente exagerou. Sabia que você precisava das roupas com urgência e mesmo assim ficou de birra comigo. Que tal eu ir até o shopping comprar um novo conjunto para você?

Joaquim interveio:

- Não precisa. Vá trabalhar primeiro.

Lorena estava deprimida, sentada ali em silêncio, sem dizer uma palavra.

Joaquim suspirou silenciosamente:

- Não se preocupe, isso não é culpa sua. As roupas são o de menos. O importante é o projeto do “O Castelo no Céu”.

Faltava apenas uma semana para a revelação do conceito de “O Castelo no Céu”. As artes e ilustrações eram fundamentais.

Esse foi o primeiro projeto que Lorena assumiu desde que voltou e era a grande aposta da empresa de jogos de Joaquim naquele ano, era crucial.

Lorena entendeu a importância disso e teve que se afastar temporariamente.

- Então, eu venho te procurar para almoçar.

Depois que Lorena saiu, Melissa lavou alguns tomates cereja, ignorando o desconforto no peito, e pegou o celular para pesquisar sobre gravidez.

As muitas pesquisas online sobre pré-natal estavam começando a deixar ela um pouco tonta.

Enquanto ela estava fazendo anotações cuidadosas com a caneta, a campainha tocou.

Quando abriu a porta, viu Igor, com uma expressão bastante preocupada.

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