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Capítulo 5

Lucas estava me esperando e Rosa estava sentada no banco do passageiro. Eu realmente queria dar meia volta e ir embora, mas a razão me fez ficar.

— A chave do carro. — Estendi a mão para Lucas ao pedir.

Lucas não falou nada, apenas colocou a chave na minha mão. Contornei o automóvel e fui diretamente para o assento do motorista, sorrindo sob o olhar confuso e surpreso de Rosa.

— Não se preocupe, querida! Você é quase como uma irmã para o Lucas, então pegar carona é algo absolutamente comum. — Em seguida, olhei para Lucas, que ainda estava em pé do lado de fora. — Anda logo, o vovô já está nos esperando.

O silêncio se perpetuou durante todo o percurso. Tudo estava quieto como se estivéssemos num caixão.

Rosa queria conversar com Lucas, mas provavelmente por ter que ficar virando a cabeça, pareceria um pouco estranho.

Percebendo que eu estava desconfortável, Lucas de repente abriu uma garrafa de bebida e me passou.

— Você quer um pouco de Suco de manga? Esse é o seu favorito.

Tomei um gole, franzi levemente a testa e então, devolvi.

— Está muito doce, pode ficar!

Naqueles dias, eu apreciava sabores mais azedos; no passado, eu comia de tudo, mesmo o que não me agradava, apenas para evitar o desperdício. Mas naqueles dias, eu nem sequer conseguia me empenhar nisso.

Lucas não pronunciou palavra alguma, apenas recuperou a bebida, como de costume.

— Oferecer bebida a ele após ter bebido não é aconselhável, sabia? A boca abriga diversas bactérias, até a Helicobacter pylori pode ser transmitida dessa forma, — advertiu Rosa com um tom sério.

— Se for por isso, nós dormimos juntos todas as noites, o que é ainda mais arriscado, não é verdade? — Não contive o riso.

Rosa sabia exatamente o que eu queria dizer.

— Jamais passou pela minha cabeça que vocês dois, mesmo sendo quase um casal de idosos, teriam tamanha intimidade.

— Está com inveja? — Lucas inquiriu de maneira fria.

Às vezes, como naquele momento, a maneira como ele tratava Rosa me fazia considerar que talvez não fosse tão apaixonado por ela.

Parecia que essa era a dinâmica com a qual estavam familiarizados.

— É claro que eu estou com ciúmes! — Rosa respondeu com ironia. — E daí?

— Quem se importa?

— É, é, é.

— Quem diria, na noite do seu casamento, ao ouvir que eu tinha um problema, você a deixou de lado para ficar comigo a noite inteira… — Rosa torceu a boca, seus olhos brilhando com diversão,

— Rosa! — Lucas a chamou com firmeza, contudo, o seu rosto ficou pálido.

De repente, voltei à realidade e pisei no freio, parando o carro a tempo antes de cruzar a faixa de pedestres. Observando através do espelho retrovisor, encarei o semblante marcado de Lucas, sentindo meu coração como se estivesse aos pedaços. Um sentimento de injustiça que provocou ardência em meu nariz e nos olhos emergiu inesperadamente.

— Nora! — Lucas, que raramente ficava furioso na minha frente, exclamou.

— Naquela noite, você foi atrás dela? — Minha voz soou amarga quando fiz a pergunta.

Emoções tumultuadas quase me subjugaram. Mesmo agora, apesar de estar em harmonia com Lucas, o fato de ele ter recebido uma ligação na noite do nosso casamento e ter saído sem voltar durante toda a noite ainda era como um espinho cravado no meu coração.

O meu casamento com Lucas foi arranjado por Mauro Franco.

No começo, nós dois éramos como estranhos, e eu nunca tive a oportunidade de perguntar para onde ele foi naquela noite. Esse assunto foi deixado de lado. Todavia, Rosa, sem aviso, arrancou o espinho do meu coração e a cravou ainda mais profundamente.

O meu olhar ia e voltava entre os dois. Eu estava me sentindo como uma piada.

— Você nunca falou sobre isso com a Nora? — Em pânico, Rosa, cobriu a boca e olhou para Lucas. — A culpa é minha, sempre falo demais.

Era como se a Nora dissesse, “Veja só, vocês nem sequer têm uma relação boa, já que ele escondeu estas coisas”.

— Rosa, você está louca? — Lucas tinha o semblante fechado e o olhar frio que assustava.

Seus traços eram marcantes, e quando seu rosto se endureceu, sua presença se tornou ainda mais intimidante, o que explicava como, apesar da pouca idade, já comandava o Grupo Franco.

— Pronto, pronto, me desculpe, não sabia que você nem tinha contado isso para sua esposa. — Rosa se apressou em se desculpar. Embora seu tom fosse complacente, ela parecia ter certeza de que Lucas não faria nada com ela.

O toque familiar do celular de repente soou.

— Me devolve. — Estendi a mão para pegar o celular, olhei rapidamente para a tela para ver quem era, atendi e controlei meus pensamentos. — Vô.

— Nora, já está chegando? — Na verdade, eu já estava quase decidindo sair do carro e ir embora. Mas ao ouvir a voz gentil de Mauro, meu coração amoleceu. — Estou chegando. Vô, está ventando muito hoje, não fique me esperando no quintal.

Todos diziam que o Sr. Mauro era sério e autoritário, mas eu sempre pensei que, se meu avô biológico estivesse vivo, provavelmente seria tão bom para mim quanto ele.

Com a chegada do outono, os dias ficavam cada vez mais curtos. Quando o carro entrou na residência da Família Franco, a noite já havia caído. Ao redor da casa, lanternas de festa junina enfeitavam, trazendo um clima festivo. Parei o carro, peguei minha bolsa e desci sem esperar por ninguém. Apesar de ter avisado pelo telefone, o velho senhor teimosamente nos esperava no quintal. Por telefone, eu ainda conseguia esconder um pouco do que sentia, mas pessoalmente, Mauro percebeu de imediato.

— Esse moleque te fez alguma coisa? — O bigode de Mauro tremia, parecendo pronto para me defender.

— Não, imagina. — Não queria preocupar meu avô e o puxei para dentro de casa. — Com esse vento, o senhor não ficou com dor de cabeça, não?

Embora eu tentasse encobrir meu marido, o meu avô percebeu quando Lucas e Rosa desceram do carro, um após o outro, e seu rosto escureceu. Porém, com o tio presente, ele se conteve e não reagiu. Meu sogro, por outro lado, ficou claramente feliz ao ver Rosa de volta.

— Lucas, soube que a Rosa começou a trabalhar na empresa? Você tem que cuidar bem dela, para honrar a sua tia Zuleica.

Concentrada no meu jantar, eu fingia que não ouvia.

— Entendi! — Lucas direcionou o olhar para mim quando falou calmamente.

— Nora, você também tem que ajudar a cuidar da Rosa. — O meu sogro fez questão de enfatizar, como se temesse que Rosa fosse maltratada na empresa.

Tomei um gole de suco de milho e logo depois respondi naturalmente:

— Agora, Rosa é minha chefe. É ela quem deve cuidar de mim.

Minhas palavras provocaram reações variadas à mesa.

— Nora, já disse, se você se sentir infeliz, o cargo de diretora está à sua disposição a qualquer momento — disse Rosa, com uma postura generosa e compreensiva. Em comparação, eu parecia um pouco agressiva.

Meu avô colocou sua xícara de café na mesa com força, claramente irritado, e falou incisivamente:

— Dar? Esse cargo já era da Nora por direito! Você sabe o seu lugar, mas o tolo do Lucas te deu o cargo por gratidão e você aceitou. — Mauro fuzilou Rosa com o olhar.

— Vô…

— Ah, não, não me chame de vô!

Mauro nunca havia aceitado Rosa como parte da família. Quando a mãe dela entrou na família, ele também se opôs veementemente. Meu sogro casou-se mesmo assim. E por isso, a fortuna da Família Franco nunca teve nada a ver com meu sogro, que recebia apenas cinco milhões por ano para viver. Nada mais.

— Pai, Rosa está sozinha agora, porque… — Meu sogro tentou falar.

— Você fica quieto! — O meu avô o interrompeu furioso.

Eu sabia que o Sr. Mauro não gostava muito de Rosa. Mas aquela foi a primeira vez que presenciei ele deixando-a sem graça em público.

— Eu não deveria ter vindo hoje, — Com o rosto pálido, Rosa pegou sua bolsa e se levantou, claramente desconfortável. — Desculpa por estragar o jantar em família.

Assim que terminou de falar, ela saiu correndo, chorando.

— Você não vai atrás dela para consolar? — Meu sogro lançou um olhar para Lucas. — A Rosa acabou de se divorciar, se algo acontecer, você vai conseguir viver com a sua consciência?

De repente, entendi por que Lucas era tão indulgente com Rosa. Havia alguém constantemente lembrando-o que estava em dívida com outra pessoa. Sob essa constante manipulação moral, quem resistiria? Quando Mauro tentou intervir, Lucas já tinha saído correndo atrás dela.

Olhei para sua figura se afastando, soltando um suspiro silencioso. Passado um bom tempo, os dois ainda não voltaram. Como esposa de Lucas, mesmo que fosse só de fachada, achei que eu deveria me levantar.

— Vovô, vou dar uma olhada no Lucas.

— Sim! — Mauro assentiu e cuidadosamente, instruiu o empregado: — Está frio à noite, pegue um casaco para a senhora.

Ao sair, vi o Maybach ainda no mesmo lugar no quintal, então decidi dar uma olhada fora da propriedade. Assim que saí, ouvi vozes de uma discussão.

— O que você está tentando fazer? Não me diga que dizer aquilo no carro foi só porque você fala o que pensa! — Lucas questionava Rosa com uma voz severa.

Essa faceta, eu só havia visto quando ele estava trabalhando. Rosa, abandonando seu usual estilo gentil e tranquilo, chorava e fazia escândalo, olhando para Lucas com olhos cheios de lágrimas.

— Você está bravo comigo, não está? Mas é que estou morrendo de ciúmes, não consigo me controlar.

— A Nora é minha esposa! — Ele retrucou com firmeza. — Que direito você tem de sentir ciúmes? — Lucas inquiriu friamente, com um tom tanto gelado quanto duro.

— Perdoe-me! — Encolhendo os ombros, Rosa chorava. — Eu me divorciei, Lucas! Você sabe que eu me divorciei por sua causa.

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