Cruise ainda estava um pouco grogue da pancada que levou quando começou a retomar a consciência. Preso em uma cadeira, tentava entender o que estava acontecendo quando viu um vulto entrar na sala e sentar-se à sua frente. A visão turva começa a ganhar forma e à sua frente estava o seu amigo e padrinho do seu filho, Cage.
— O que está acontecendo aqui? –disse Cruise.
— Nem tudo é o que parece ser, meu amigo. Você já deveria saber.
— Eu fiz de você padrinho do meu filho!
— E eu agradeço por isso. Agora poderei continuar o que foi iniciado em 1953, quando nós dois éramos jovens agentes da INSIDE.
Levantando e indo em direção ao Cruise, Cage parou atrás de George e apoiou suas mãos em seus ombros.
— Você se envolveu demais Cruise, se envolveu demais. Eu não queria fazer isso.
Desde a morte dos seus pais quando tinha perto dos dez anos de idade, Nicolas passou a morar com o seu padrinho. Na ocasião o seu padrinho apresentou uma carta de George Cruise que dizia que caso acontecesse algo com ele e com a esposa, ele gostaria que o Nicolas morasse com o Cage, seu amigo e padrinho do seu filho, e que os seus outros dois filhos morassem com os avós em Minas Gerais.Na época os avós aceitaram o desejo do pai desde que Cage prometesse que os irmãos e os avós pudessem sempre se ver, inclusive os que moravam nos Estados Unidos. Todo ano Cage fazia uma viagem para Minas Gerais e para os Estados Unidos para que o Nicolas pudesse ver os irmãos e os avós. Eventualmente Nicolas viajava sozinho.Nicolas foi um adolescente rebelde e vira e mexe se metia em confusão com amigos do bairro ou da escola. Cage era constantemente chamado na escola para conversar com o supervisor sobre o comportame
Cage estava decidido a recuperar a confiança do afilhado. Toda a tensão e brigas poderiam colocar em risco a operação Tróia Tropical, e Nicolas era peça chave.Naquele sábado de manhã ele acordou Nicolas cedo:— Nicolas, acorde, troque de roupa, tome café que vamos sair.— Me deixa, é sábado – respondeu Nicolas.— Você tem trinta minutos – respondeu Cage, ignorando as palavras do afilhado.— Porra, até em casa parece que tô no quartel – disse Nicolas revoltado. Em seguida se levantou e foi ao banheiro.Trinta minutos depois, Nicolas aparece na sala já pronto para sair e pergunta:— Onde iremos?— Você verá – respondeu o padrinho.Saíram de carro sem se falar, Nicolas olhava a paisagem enquanto Cage dirigia. Era sábado e diversas fam&i
Os três anos nos quais esteve nos Estados Unidos estudando foram de muitas mudanças e desafios. Por ser o único brasileiro em sua sala, era alvo de curiosidade e preconceito. Nicolas estava mais controlado e buscava não se envolver em confusões.Em seu primeiro dia de aula, foi apresentado pela professora aos alunos:—Pessoal, eu quero que vocês deem as boas vindas ao novo colega, Nicolas. Ele não é daqui, veio do Brasil e vai precisar da ajuda de vocês– disse a professora.—Não sabia que a escola estava aceitando macacos albinos na sala – gritou um colega no fundo. Os demais caíram na gargalhada.— Meninos, mais respeito com o colega. Nicolas, pode ir lá se sentar.Nicolas se sentou mais à frente, pois havia percebido que os insultos saíram do fundo da sala.—Não ligue pra ele
O período do High School começou de maneira problemática para Nicolas mas tudo mudou depois do episódio da briga. Nunca mais teve problema com o Donald e seus amigos. Nicolas era respeitado e conquistou amizades. Capitão do time de futebol, conquistou o tri campeonato estadual para sua escola. Nicolas acordou cedo no dia da formatura e foi para cozinha tomar café. Seu padrinho já estava de pé e fazia a leitura de um jornal na sala.— Acordou cedo, campeão – disse seu padrinho.— É, estou um pouco ansioso.— Hoje é o grande dia.— Sabe padrinho, estou feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por me formar, triste por deixar meus amigos pra trás.— Amizades vem e vão, Nicolas. Cada pessoa que passa por nossas vidas deixa uma marca, positiva e até negativa. Faz parte da vida e nos faz crescer. Você fará novas a
Nicolas se tornou cadete das Agulhas Negras em 1973, se formando em 1978. O treinamento era pesado, cansativo. Às vezes tinha vontade de desistir, mas ele tinha um objetivo de vida e era muito determinado. Sua dedicação e inteligência chamavam a atenção dos seus superiores que sempre o incentivavam e diziam que ele tinha futuro ali.Nicolas gostava daquele ambiente, e no auge da ditadura militar, quando entrou no exército, alimentava o desejo de expurgar o comunismo do país. Com o término da ditadura em 1978, no ano da sua formatura, Nicolas já estava mais maduro e entendia melhor qual deveria ser o verdadeiro papel das forças armadas para o Brasil.Nicolas decidiu seguir na carreira militar. O exército ocupava o seu tempo e o ajudava a esconder os seus traumas de infância e o que isso acarretou em sua vida, como a dificuldade de se relacionar afetivamente com as pessoas. Nicolas t
Jairo passava longe de ser o cadete mais admirado das agulhas negras. Nascido e criado em Copacabana, 1,85 metros de altura, Jairo teve uma infância típica da classe média carioca. Filho de um ortopedista e uma professora, Jairo cresceu jogando bola e soltando pipa com os amigos. Não era detentor de notas brilhantes e preferia o silêncio e o anonimato dentro da sala. Achava que quanto menos notassem sua presença ali, menos iriam perceber suas limitações e dificuldades. Aluno de um colégio militar no segundo grau, no recreio era o líder na gozação com outros colegas. As advertências lhe rendiam seções de polichinelo e corridas em volta da quadra. Era o local da escola onde ele se sentia mais à vontade, correndo solitariamente em meio aos seus pensamentos. Ele sabia que o seu destino era servir ao exército. Admirador da disciplina militar e do status que a farda represen
Havia uma grande expectativa sobre a reunião que estava agendada para aquela manhã e a presença de todos os militares do quartel havia sido solicitada. Postos em fila na quadra do quartel, os soldados aguardavam a chegada do Major para o início da reunião. O Major chegou e foi logo explicando o motivo da reunião:— Fomos convidados pelo Exército dos Estados Unidos para participar de um treinamento em solo Americano. Seremos a única nação da América do Sul a participar deste treinamento que contará também com representantes da Alemanha, Inglaterra, França e Japão. É um grande orgulho para a gente. Serão enviados para os Estados Unidos três membros das nossas Forças Armadas, que deverão representar o Exército Brasileiro com toda garra e honra que essa farda exige. Entretanto, não pudemos escolher os soldados. Os americano
O ano era 1995 e Nicolas iria aproveitar o feriado para descansar em Búzios. Enquanto separava as roupas para a viagem, Nicolas começou a pensar em seus pais e na falta que eles faziam. Ao abrir o maleiro e puxar a mala lá de cima, caiu a carta que sua avó paterna havia lhe entregado quando fez 15 anos. Ela havia sido escrita pelo seu pai que havia pedido para entregar ao filho quando ele atingisse a maioridade, entretanto, por se encontrar doente e temer não ter a oportunidade de entregar a carta ao neto no tempo certo, acabou antecipando a entrega da mesma. Nicolas guardou a carta sem ler e passou vários anos sem se lembrar dela. Na época, Nicolas estava cheio de ódio. Odiava quem havia matado seus pais, odiava seus pais por terem ido embora tão cedo. Em sua memória, lembrava da época que sua mãe dizia antes de dormir que eles estariam juntos para sempreNicolas resolveu abrir a carta, conse