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Capítulo 4 Verdades duras de ouvir

Ela rapidamente pegou seu celular e voltou para o quarto, atendendo a ligação com uma voz repreensiva:

- Você é demais, hein? Saiu sem terminar a conversa!

- Aconteceu um problema na empresa, eu estava um pouco apressada. - A voz de Eunice soava realmente cansada e rouca. - Acabei de resolver e liguei para você, do que você está reclamando? Acha que eu vivo na moleza como você?

Hesitante, mas incapaz de se conter, ela perguntou:

- Você disse que viu o Vitor anteontem, onde foi isso? E que horas?

Essa pergunta a incomodou um dia inteiro.

Ela sentiu que Eunice hesitou do outro lado da linha, respondendo com indiferença:

- Eu nem me lembro mais onde foi, eu estava dirigindo e o vi rapidamente.

- Ah!

Por algum motivo, essa resposta a deixou um pouco desapontada.

Mas seu coração ansioso se acalmou. Suas mãos, antes firmemente apertadas, relaxaram, frias e suadas.

Ela riu de si mesma. "Será que eu realmente queria confirmar sua infidelidade para me sentir satisfeita?"

Teve que admitir, Vitor era seu mundo e ela temia que esse mundo desabasse.

- Eu percebi que você é praticamente uma escrava do seu marido. Só de mencionar o Vitor, você se anima. Não pode ter um pouco de autonomia? A Ivana já está na pré-escola, você deveria ter suas próprias coisas para fazer. Não me diga que realmente quer passar a vida inteira como um acessório do Vitor! Eu acho que você está ficando estúpida, se desconectando do mundo exterior. No seu mundo, só existe Vitor. - Eunice a provocou.

Ela sorriu sem jeito e suspirou:

- Mas o Vitor disse...

- Vitor disse? Eu não disse? No seu mundo, só existe o Vitor. Tudo o que ele diz é uma ordem, se ele mandar você morrer, você morre? Se ele te vender, você ainda ajudaria a contar o dinheiro? - Eunice falou irritada.

- Cale a boca, Vitor jamais iria querer me vender! - Ela retrucou.

- Claro, o seu Vitor não iria te vender, mas eu sim! - Eunice disse com desprezo. - Verdades duras de ouvir, pense nisso. As pessoas precisam ter seu próprio valor, não ser como uma velha rodando em torno dos homens. Isso não é amor, é burrice! Só é amor verdadeiro se ele se preocupa com você. Você está sempre do mesmo jeito, ele ainda vai se interessar por você assim? Não sou eu quem está dizendo, mas agora, além da criança e do marido, você provavelmente até esqueceu seu próprio sobrenome, não é?

Eunice falava como uma metralhadora, deixando Luiza sem espaço para rebater. Só quando Luiza permaneceu em silêncio, Eunice se acalmou, suavizando a voz:

- Luiza Rios, eu realmente espero ver novamente a sua confiança, você era a estrela da turma, minha ídola! Acho uma pena que você esteja se desperdiçando em casa como dona de casa.

- Ah, qual é? Você está me batendo e depois me consolando. Não sei quem te deixou chateada para você vir descontar em mim.

As duas riram.

Eunice e ela sempre foram assim, diretas uma com a outra.

Embora Eunice já tivesse dito isso antes, ouvir hoje soou diferente para Luiza, a deixando inexplicavelmente ansiosa. Será que Eunice estava insinuando algo?

Nesse momento, Vitor bateu na porta e entrou, com um sorriso suave no rosto:

- Querida! Hora do jantar!

Ele foi a chamar para jantar. Quando Eunice ouviu um barulho no celular, disse rapidamente:

- Tá bom, vai jantar! - E sussurrou algo mais. - Pense no que eu disse, não se deixe cegar pela beleza diante de seus olhos!

Após desligar, Luiza foi puxada por Vitor, que a beijou:

- Quem estava no telefone?

- Eunice!

- O que ela disse? Falou tanto tempo!

Vitor perguntou casualmente, com um sorriso caloroso. Ele sabia da amizade entre Luiza e Eunice, ambas colegas de classe.

- Faz tempo que não vejo ela!

Luiza se distraiu por um momento. "Faz tempo que não vejo ela? Então, o que Eunice disse sobre ver ele anteontem não era um encontro próximo."

Ela se tranquilizou, talvez estivesse pensando demais, talvez Eunice também estivesse confusa.

- O que foi? - Vitor perguntou, ao ver ela distraída. Ele se inclinou, segurou seu rosto e a beijou carinhosamente. - Por que está tão distraída? O que está pensando?

Seu olhar era cheio de preocupação. Ela voltou a si e sorriu:

- Nada, vamos jantar!

Vitor a puxou, a beijou novamente e olhou em seus olhos:

- Não esconda nada do marido, ok? Vamos resolver juntos!

Ela abraçou sua cintura, olhou para cima e brincou:

- Quem é mais neurótico, eu ou você? Sem motivos para se preocupar, vamos comer!

Vitor sorriu, aliviado com outro beijo e, então, caminharam juntos para fora.

Mas, por alguma razão, as dúvidas de Luiza só aumentaram.

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