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Capítulo 3

Fiquei pasma.

Como se precisasse confirmar algo, eu olhei várias vezes para o e-mail com atenção.

Sim, era isso mesmo. Rosa foi nomeada como diretora de design, a minha chefe imediata.

— Nora, você a conhece?

Zoe percebeu que algo estava errado, balançou a mão na frente dos meus olhos e falou sobre a sua suspeita.

— Sim, ela é a irmã de Lucas por parte de pai, — Coloquei o celular de lado ao mencionar. — Já te falei sobre ela antes.

Depois da formatura, nós seguimos caminhos diferentes, mas Zoe e eu, que éramos muito próximas durante a universidade, decidimos ficar no Rio de Janeiro, sem planos de ir para outro lugar.

— Poxa, nepotismo, né! — Zoe fez uma careta ao constatar.

Eu não respondi de imediato. Pensando bem, isso era mais do que simples nepotismo.

— Lucas está maluco? — Zoe continuou reclamando, indignada com minha situação. — Por que ela? Nunca ouvi falar dela no mundo do design, e Lucas, do nada, dá a ela o cargo de diretora? E quanto a você? Em que posição ele vai te colocar?

— Chega de falar sobre isso! — Eu a interrompi suavemente. — Isso não importa. Se ele quiser me dar oportunidades, ele dará.

Se não quiser, alguém mais dará.

Como estávamos na cantina da empresa, decidi não fazer mais comentários sobre aquilo para evitar que as pessoas começassem a falar.

— Você já está planejando algo? — Zoe indagou, avaliando-me com seu olhar clínico.

Zoe me conhecia bem. Quando saímos da cantina e vimos que não havia ninguém por perto, ela tocou em meu ombro.

— O que você acha? — Levantei uma sobrancelha.

— Vamos lá, Nora, me conta o que está planejando.

— Eu ainda não sei se realmente quero fazer isso…

Havia quatro anos que trabalhava naquela empresa e nunca havia mudado de emprego. O Grupo Franco era como minha zona de conforto.

Se eu fosse sair, precisaria provavelmente de um empurrãozinho, seja lá o que fosse. Voltando ao escritório, me concentrei no design de uma edição limitada para o Ano Novo, sem ter tempo para o almoço. Essa era uma tarefa que deveria ser da diretora, mas com a saída dele, naturalmente caiu nas mãos da vice-diretora, e eu tive que me apressar.

— Mana, café. — Perto das duas da tarde, a assistente Gloria Cabral entrou, colocando um café na minha mesa.

— Obrigada! — Eu sorri.

Ela me viu trabalhando nos designs, confusa.

— Mana, como você consegue ficar tranquila para desenhar? Eu ouvi que a nova diretora não passou por uma entrevista, simplesmente pegou o cargo, você não está chateada com isso?

Dei uma risada sem jeito, sem saber o que responder.

Chateada? Com certeza, eu estava, mas não era nada que pudesse discutir com uma subordinada.

— Gente, escutem aqui!

De repente, um alvoroço começou fora do escritório, e Felipe chamou todos para se reunirem. Através do vidro, a área comum do escritório estava toda à vista.

Lucas, vestindo um terno escuro feito sob medida, com uma mão no bolso, tinha uma postura fria e intimidante. Rosa parou perto dele. Ambos pareciam um par perfeito. Confiante, ela lançou um olhar para o homem ao seu lado, parecendo pedir ajuda. Ele franziu a testa, claramente impaciente, mas ainda assim, a fitou com indulgência.

— Esta é a nova diretora de design, Rosa. — Com voz suave, Lucas a apresentou. — A partir de agora, eu espero que todos colaborem com o trabalho dela.

— Por que está tão sério? — Rosa o olhou com desdém. Então, com um sorriso relaxado e alegre, ela disse, — Não liguem para ele! Sou bem fácil de lidar, não chegarei aqui fazendo grandes mudanças. Se houver algo que eu não faça bem, fiquem à vontade para falar comigo.

___________

Com o presidente dando apoio, o ambiente ficou naturalmente harmonioso. Gloria Cabral não conseguiu se segurar e murmurou:

— Nossa, fala sério, nepotismo. Ela se casou pela segunda vez hoje à tarde e já assumiu o cargo no mesmo dia.

Eu já estava me sentindo mal, mas ao ouvir aquele absurdo, acabei dando risada.

Lá fora, Lucas acompanhou Rosa até a porta do escritório da diretora.

— Pronto, pronto, o que mais está te preocupando? Com essa cara fechada, quem terá coragem de se aproximar de mim? — Rosa empurrava Lucas com um gesto carinhoso, embora falasse como se estivesse criticando, mas com um sorriso estampado em seu rosto.

Levei o café aos lábios e tomei um gole, sentindo o gosto amargo. Vendo-me franzir a testa, Gloria Cabral pegou a xícara e tomou um gole.

— Não está tão amargo. Hoje, eu coloquei até dois cubos de açúcar pensando em te fazer feliz com algo doce.

“Toc, toc!” Lucas apareceu em minha sala após ter sido expulso do escritório de Rosa. Fiquei olhando para ele sem piscar, desejando poder ver dentro do seu coração.

— Vou preparar outro café para você. — Glória se retirou.

Lucas entrou devagar e fechou a porta.

— É a primeira vez que ela trabalha fora, está um pouco nervosa, — ele começou a explicar, — foi por isso que ela pediu a minha ajuda para se acalmar.

— É mesmo? — perguntei sorrindo. — Não parece!

Primeiro, ela fez com que Lucas, um executivo importante, a apresentasse. Depois, com brincadeiras ligeiras, deixou claro em poucas palavras sua relação especial com Lucas.

— Ela é fácil de lidar. — Lucas teceu o comentário.

Era como estar numa mesa de pôquer declarando que você tem um royal flush. Quem ousaria discutir?

— Tudo bem! Embora ela seja alguns anos mais velha, você é mais experiente e tem mais habilidade que ela em design. As pessoas do departamento ainda respeitam você.

— Você não precisa se incomodar com ela, — Lucas veio por trás de mim, massageando meus ombros ao tentar me convencer: — Só não deixe que a maltratem, tudo bem?

Foi a primeira vez que senti uma raiva incontrolável surgindo contra ele. Afastei sua mão bruscamente, levantei-me rápido.

— Se é como você diz, por que Rosa foi promovida a diretora ao invés de mim? — Questionei com firmeza.

Assim que as palavras saíram, percebi o quanto fui direta.

Até Lucas, que sempre mantinha a calma, mostrou surpresa em seus olhos.

Sim. Depois de três anos de casamento, embora não vivêssemos em total harmonia, sempre nos tratamos com respeito. Nunca tivemos uma discussão séria. Ele provavelmente sempre pensou que eu era a mulher mais calma do mundo. Contudo, eu não me arrependi de ter dito aquilo.

Se a posição de diretora fosse dada a alguém mais capaz do que eu, eu aceitaria de bom grado. Mas naquele dia, a promoção foi dada a Rosa. Eu tinha o direito de questioná-lo sobre aquela repentina decisão. Foi a primeira vez que Lucas viu o meu lado firme e assertivo.

— Nora, é isso que te deixa irritada? — Ele murmurou com os lábios cerrados,

— Não posso!

Diante dos outros, posso fingir que está tudo bem, mostrar uma certa generosidade, mas na frente do meu próprio marido, se ainda preciso esconder quem sou, então que tipo de casamento é esse?

— Que bobagem. — Ele pegou o controle remoto, tornando o vidro translúcido em fosco, e me puxou para seus braços com um gesto carinhoso. — O Grupo Franco é todo seu, por que se preocupar com um cargo?

— O Grupo Franco é seu, não meu.

O que consigo segurar é apenas o que está diante de mim.

— Somos marido e mulher, — ele levantou meu queixo, olhando sério, precisamos fazer essa distinção?

— Então que tal transferir algumas ações para mim? — Eu ri ao sugerir.

Observei-o atentamente, pois não queria perder nenhum sinal de suas emoções. Para minha surpresa, não vi nenhuma expressão de desagrado no belo rosto másculo.

— Quanto você quer? — Ele apenas arqueou a sobrancelha,

Depois que Lucas assumiu o já vasto Grupo Franco, e o expandiu ainda mais, nem dez por cento, mesmo um por cento, hoje vale muito. Eu realmente não esperava que ele concordasse, apenas disse um número.

— Dez por cento.

Se fosse realmente pedir, seria pedir demais.

— Certo! — Ele concordou.

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