Nicolas era o filho mais velho do George Cruise e Carolina. Nasceu no final de 1955. Ele ainda tinha mais dois irmãos, Pedro, 3 anos mais novo, e Érica, 5 anos mais nova.
Nicolas foi uma criança feliz e amável. Passava o tempo brincando com os amigos no hall do seu prédio ou soltando pipa e jogando bola no aterro do Flamengo. Adorava futebol e por influência da sua mãe e do seu avô materno, ambos mineiros, Nicolas torcia para o Atlético Mineiro, embora gostasse de ir com o pai aos jogos do Botafogo, clube que o pai adotou ao chegar na cidade.
O amor sempre esteve presente na sua relação com os seus pais e irmãos. Seus pais buscavam lhe educar dentro dos princípios da moralidade e da fraternidade. Cruise, o pai, lhe ensinava as coisas sobre o seu país de origem e dizia que um dia ambos iriam fazer uma viagem de moto, cruzando os Estados Unidos, de leste a oeste, pe
Nos últimos meses, a tensão estava estampada na cara de Cruise. Se irritava fácil com pequenas coisas. Ele tinha muita vontade de desabafar, explicar tudo que estava acontecendo, todas as suas angústias e medos. Entretanto, Cruise não sabia como a esposa iria reagir caso soubesse que ele era na verdade um agente secreto. Temia perder quem ele amava. Sua vida ainda tinha mentiras que poderiam magoar quem ele amava a ponto de colocarem em dúvida o sentimento dele por sua família.Nos últimos dias, Cruise costumava sair sem dizer para onde ia e sua esposa começava a desconfiar que era o amor dele por ela que estava se esvaindo. Sempre que ele chegava mais tarde em casa, ele passava nos quartos dos seus filhos que estavam dormindo, dava-lhes um beijo na testa, em seguida seguia para o seu quarto. Naquela noite, Carolina resolveu esperar acordada na cama o retorno do marido para que pudessem conversar.
Cruise ainda estava um pouco grogue da pancada que levou quando começou a retomar a consciência. Preso em uma cadeira, tentava entender o que estava acontecendo quando viu um vulto entrar na sala e sentar-se à sua frente. A visão turva começa a ganhar forma e à sua frente estava o seu amigo e padrinho do seu filho, Cage.— O que está acontecendo aqui? –disse Cruise.— Nem tudo é o que parece ser, meu amigo. Você já deveria saber.— Eu fiz de você padrinho do meu filho!— E eu agradeço por isso. Agora poderei continuar o que foi iniciado em 1953, quando nós dois éramos jovens agentes da INSIDE.Levantando e indo em direção ao Cruise, Cage parou atrás de George e apoiou suas mãos em seus ombros.— Você se envolveu demais Cruise, se envolveu demais. Eu não queria fazer isso.
Desde a morte dos seus pais quando tinha perto dos dez anos de idade, Nicolas passou a morar com o seu padrinho. Na ocasião o seu padrinho apresentou uma carta de George Cruise que dizia que caso acontecesse algo com ele e com a esposa, ele gostaria que o Nicolas morasse com o Cage, seu amigo e padrinho do seu filho, e que os seus outros dois filhos morassem com os avós em Minas Gerais.Na época os avós aceitaram o desejo do pai desde que Cage prometesse que os irmãos e os avós pudessem sempre se ver, inclusive os que moravam nos Estados Unidos. Todo ano Cage fazia uma viagem para Minas Gerais e para os Estados Unidos para que o Nicolas pudesse ver os irmãos e os avós. Eventualmente Nicolas viajava sozinho.Nicolas foi um adolescente rebelde e vira e mexe se metia em confusão com amigos do bairro ou da escola. Cage era constantemente chamado na escola para conversar com o supervisor sobre o comportame
Cage estava decidido a recuperar a confiança do afilhado. Toda a tensão e brigas poderiam colocar em risco a operação Tróia Tropical, e Nicolas era peça chave.Naquele sábado de manhã ele acordou Nicolas cedo:— Nicolas, acorde, troque de roupa, tome café que vamos sair.— Me deixa, é sábado – respondeu Nicolas.— Você tem trinta minutos – respondeu Cage, ignorando as palavras do afilhado.— Porra, até em casa parece que tô no quartel – disse Nicolas revoltado. Em seguida se levantou e foi ao banheiro.Trinta minutos depois, Nicolas aparece na sala já pronto para sair e pergunta:— Onde iremos?— Você verá – respondeu o padrinho.Saíram de carro sem se falar, Nicolas olhava a paisagem enquanto Cage dirigia. Era sábado e diversas fam&i
Os três anos nos quais esteve nos Estados Unidos estudando foram de muitas mudanças e desafios. Por ser o único brasileiro em sua sala, era alvo de curiosidade e preconceito. Nicolas estava mais controlado e buscava não se envolver em confusões.Em seu primeiro dia de aula, foi apresentado pela professora aos alunos:—Pessoal, eu quero que vocês deem as boas vindas ao novo colega, Nicolas. Ele não é daqui, veio do Brasil e vai precisar da ajuda de vocês– disse a professora.—Não sabia que a escola estava aceitando macacos albinos na sala – gritou um colega no fundo. Os demais caíram na gargalhada.— Meninos, mais respeito com o colega. Nicolas, pode ir lá se sentar.Nicolas se sentou mais à frente, pois havia percebido que os insultos saíram do fundo da sala.—Não ligue pra ele
O período do High School começou de maneira problemática para Nicolas mas tudo mudou depois do episódio da briga. Nunca mais teve problema com o Donald e seus amigos. Nicolas era respeitado e conquistou amizades. Capitão do time de futebol, conquistou o tri campeonato estadual para sua escola. Nicolas acordou cedo no dia da formatura e foi para cozinha tomar café. Seu padrinho já estava de pé e fazia a leitura de um jornal na sala.— Acordou cedo, campeão – disse seu padrinho.— É, estou um pouco ansioso.— Hoje é o grande dia.— Sabe padrinho, estou feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por me formar, triste por deixar meus amigos pra trás.— Amizades vem e vão, Nicolas. Cada pessoa que passa por nossas vidas deixa uma marca, positiva e até negativa. Faz parte da vida e nos faz crescer. Você fará novas a
Nicolas se tornou cadete das Agulhas Negras em 1973, se formando em 1978. O treinamento era pesado, cansativo. Às vezes tinha vontade de desistir, mas ele tinha um objetivo de vida e era muito determinado. Sua dedicação e inteligência chamavam a atenção dos seus superiores que sempre o incentivavam e diziam que ele tinha futuro ali.Nicolas gostava daquele ambiente, e no auge da ditadura militar, quando entrou no exército, alimentava o desejo de expurgar o comunismo do país. Com o término da ditadura em 1978, no ano da sua formatura, Nicolas já estava mais maduro e entendia melhor qual deveria ser o verdadeiro papel das forças armadas para o Brasil.Nicolas decidiu seguir na carreira militar. O exército ocupava o seu tempo e o ajudava a esconder os seus traumas de infância e o que isso acarretou em sua vida, como a dificuldade de se relacionar afetivamente com as pessoas. Nicolas t
Jairo passava longe de ser o cadete mais admirado das agulhas negras. Nascido e criado em Copacabana, 1,85 metros de altura, Jairo teve uma infância típica da classe média carioca. Filho de um ortopedista e uma professora, Jairo cresceu jogando bola e soltando pipa com os amigos. Não era detentor de notas brilhantes e preferia o silêncio e o anonimato dentro da sala. Achava que quanto menos notassem sua presença ali, menos iriam perceber suas limitações e dificuldades. Aluno de um colégio militar no segundo grau, no recreio era o líder na gozação com outros colegas. As advertências lhe rendiam seções de polichinelo e corridas em volta da quadra. Era o local da escola onde ele se sentia mais à vontade, correndo solitariamente em meio aos seus pensamentos. Ele sabia que o seu destino era servir ao exército. Admirador da disciplina militar e do status que a farda represen