O ano era 1949. O Presidente americano Harry Todd assina alguns documentos enquanto descansa sobre a sua mesa um relatório elaborado pela sua equipe econômica. O relatório havia sido solicitado no mês anterior e sua entrega era aguardada com ansiedade pelo presidente. Naquele dia, reuniões e outros compromissos atrapalharam o início da leitura do relatório. Entretanto, ele não poderia esperar até o dia seguinte para saber o conteúdo e no final da tarde o relatório já estava dentro da sua pasta de couro. O destino era a sua casa.
Já eram dez horas da noite quando o presidente, em sua poltrona favorita localizada estrategicamente ao lado da lareira, iniciou a leitura. Em sua companhia, seu cachorro deitado próximo aos seus pés e uma garrafa de uísque. A leitura era viciante e pouco depois das três horas da manhã ele resolveu se deitar. Entretanto naquela noite e nas noites seguintes quatro palavras que estavam no relatório assombraram a sua mente e o impediram de dormir: URSS, China, Índia e Brasil.
O relatório apontava quais países poderiam interferir e prejudicar os planos Norte Americanos de se tornarem uma potência mundial hegemônica no mundo. Os Estados Unidos precisavam monitorar esses países de perto, precisavam ainda ter a Europa ocidental como sua aliada.
Com o término da segunda guerra, o mundo havia mudado bastante e duas grandes forças haviam emergido: Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A Europa não era mais o centro do mundo, e os olhos se voltavam para os dois países.
O relatório exigia algumas medidas emergenciais. O Comunismo era visto como o principal inimigo do mundo ocidental desde o início da segunda guerra. A União Soviética era o inimigo mais urgente. Ter aliados fortes era importante. O primeiro passo foi a implementação do Plano Madrid em 1947, em homenagem à cidade na qual foi assinado. Tratava-se de uma ajuda econômica às nações europeias aliadas, destruídas pela segunda guerra. Em seguida, em 1949, era criada a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, cujo objetivo era criar uma força militar conjunta, um sistema de defesa coletivo para os países membros. Nascia ali a Doutrina Todd, um conjunto de ações econômicas, diplomáticas e militares que visava “frear o avanço do comunismo no mundo”.
A China era tratada dentro dos Estados Unidos como um “caso perdido”. A Revolução Comunista Chinesa iniciada em 1946 e comandada por Mao Tse-Tung acabou levando à criação da República Popular da China ainda no ano de 1949. Era uma ameaça amarela, de médio prazo, pois apesar da grande população, era um país extremamente agrícola. Com um regime extremamente fechado e o apoio dos soviéticos, o relatório apontava que era praticamente impossível impedir que a China, caso se tornasse uma nação comunista, atingisse na virada do século o posto de primeiro ou segundo maior inimigo dos Estados Unidos, ao lado da União Soviética.
A Índia, que recentemente tinha conseguido sua independência frente à Grã-Bretanha, era monitorada através de agentes locais. No relatório não era tratada com urgência, afinal era um país de “terceiro mundo” tentando se organizar politicamente após uma independência recente, mas sua imensa população e sua localização, próximo à China e União Soviética tornava qualquer aproximação complicada.
Durante a segunda guerra, o Escritório de Serviços Estratégicos foi quem executou operações de estratégia e inteligência de forma coordenada nos Estados Unidos. Com o término da segunda grande guerra, o Governo viu a necessidade de se criar uma Agência oficial civil de Inteligência. Foi criada então em 1949 a Agência Central de Inteligência, que era a Agência de Inteligência Civil Americana, também conhecida como CIA. No mesmo ano foi criada a INSIDE. A INSIDE foi criada para ser uma Agência de Inteligência para operar missões não autorizadas na CIA. Suas missões eram desde simples espionagem, à roubo de informações e sabotagens de novas tecnologias.A INSIDE oficialmente não existia. Ela funcionava em um prédio comercial no centro de Washington sob o codinome de INSIDE CO.A INSIDE CO. era formada
Como bom militar, Todd sabia que uma guerra política e econômica era tratada em várias frentes, em ações de pequeno, médio e de longo prazo. Com o término da segunda guerra, movimentos nacionalistas se espalhavam pelo mundo e alguns eram monitorados de perto. O Brasil, em função do seu tamanho territorial, localização, sua imensa população, suas florestas e recursos minerais era visto como um aliado importante e o presidente americano não estava disposto a perder o país sul-americano para a União Soviética. Agentes da CIA no Rio de Janeiro reportavam diariamente tudo o que acontecia na política nacional. Ter agentes infiltrados na estrutura de governos aliados e inimigos era algo comum, mas o governo americano queria mais, mais do que a CIA poderia lhe dar.Enquanto o presidente Getúlio Braga criava no Brasil em 1953 a Petrosil, Empresa Nac
George Cruise era o filho mais novo de uma família de 5 irmãos. Nasceu e cresceu no subúrbio de Houston, no Texas. Seu pai era americano e trabalhava na Companhia de Energia Elétrica da cidade e sua mãe era mexicana e se empenhava em cuidar do lar e dos filhos.O ataque de Pearl Harbor, em 1941, coincidiu com a maioridade de George Cruise que se alistou no exército para servir em combate. George adiaria por um tempo o seu sonho de cursar engenharia. Os anos de treinamento e de Guerra não foram fáceis. George estava ali em defesa do seu país, mas viu muitos amigos perderem suas vidas em campanha. Entretanto sua coragem lhe rendeu elogios e medalhas durante a guerra.Com o término da segunda guerra, George pode retomar o sonho de cursar engenharia. Tinha muito interesse em trabalhar na área de energia ou petrolífera. Em 1946 ingressou na universidade. No início de 1948 recebeu em s
Foi no elevador a primeira vez que ela e Cruise se encontraram. Cruise estava a poucos meses no Brasil. Ele estava entrando no elevador e ela gritou pedindo que segurasse o elevador para ela.— Obrigada! Você poderia apertar o 12 pra mim?— Claro!Carolina chamava a atenção por onde passava com seus cabelos negros e os olhos castanhos como o mel. Cruise estava encantado, queria saber quem era a moça que tinha tanta pressa para subir. Carolina segurava junto ao peito alguns livros da faculdade, cursava o último ano de letras.— Jane Austen? – indagou Cruise.— Não entendi.— O livro na sua mão, é da Jane Austen, certo?— Ah sim. É sim, Jane Austen. É para a faculdade, estudo língua inglesa.— Boa leitura!Carolina ficou impressionada, ele conhecia Jane Austen. Não era comum encontrar com pesso
Cruise passou a semana pensando naquela moça que conheceu no elevador. Queria encontrá-la novamente, queria conversar, conhecê-la, mas sua timidez o atrapalhava. O segundo encontro dos dois também aconteceria de forma ocasional. Cruise passeava no calçadão no final semana quando viu Carolina vindo na direção contrária, junto com duas amigas. Ficou sem saber o que fazer: “Será que eu cumprimento?”, “mas se ela nem lembrar de mim? Vou fazer papel de bobo”, “talvez seja melhor fingir que não a vi”. Não deu nem tempo dele decidir o que fazer, Carolina ao se aproximar disse:— Olá, americano Cruise!Mal deu tempo dele dizer oi, as três passaram sem parar, apenas diminuíram um pouco o ritmo da caminhada. Cruise olhou para trás e Carolina também havia se voltado para trás, sorrindo, e entrecochichos e risad
Quando se está sozinho em um país estrangeiro, solidão é uma palavra de ordem. Não há com quem conversar sobre as coisas que sempre gostou, sobre as músicas que sempre escutou, sobre o que acontece no seu país. Inevitavelmente, quando você encontra um conterrâneo, acabam virando grandes amigos. Foi assim com Cruise e Cage. Cage era de Nova York mas há um ano dava aula no departamento de matemática de uma Universidade da cidade. Morava no bairro das Laranjeiras, viúvo, tinha pouco menos de 40 anos. Eles se conheceram no bar. Enquanto Cruise saboreava sua cerveja no bar próximo a sua casa, após um longo dia de trabalho, um senhor chegava ao seu lado e fazia um pedido um pouco estranho ao garçom:— Boa noite, Pereira, me vê aquele leite e aquela água com gás. Bem gelados hein!O Garçom não estranhou o pedido, afinal o client
Nicolas era o filho mais velho do George Cruise e Carolina. Nasceu no final de 1955. Ele ainda tinha mais dois irmãos, Pedro, 3 anos mais novo, e Érica, 5 anos mais nova.Nicolas foi uma criança feliz e amável. Passava o tempo brincando com os amigos no hall do seu prédio ou soltando pipa e jogando bola no aterro do Flamengo. Adorava futebol e por influência da sua mãe e do seu avô materno, ambos mineiros,Nicolas torcia para o Atlético Mineiro, embora gostasse de ir com o pai aos jogos do Botafogo, clube que o pai adotou ao chegar na cidade.O amor sempre esteve presente na sua relação com os seus pais e irmãos. Seus pais buscavam lhe educar dentro dos princípios da moralidade e da fraternidade. Cruise, o pai, lhe ensinava as coisas sobre o seu país de origem e dizia que um dia ambos iriam fazer uma viagem de moto, cruzando os Estados Unidos, de leste a oeste, pe
Nos últimos meses, a tensão estava estampada na cara de Cruise. Se irritava fácil com pequenas coisas. Ele tinha muita vontade de desabafar, explicar tudo que estava acontecendo, todas as suas angústias e medos. Entretanto, Cruise não sabia como a esposa iria reagir caso soubesse que ele era na verdade um agente secreto. Temia perder quem ele amava. Sua vida ainda tinha mentiras que poderiam magoar quem ele amava a ponto de colocarem em dúvida o sentimento dele por sua família.Nos últimos dias, Cruise costumava sair sem dizer para onde ia e sua esposa começava a desconfiar que era o amor dele por ela que estava se esvaindo. Sempre que ele chegava mais tarde em casa, ele passava nos quartos dos seus filhos que estavam dormindo, dava-lhes um beijo na testa, em seguida seguia para o seu quarto. Naquela noite, Carolina resolveu esperar acordada na cama o retorno do marido para que pudessem conversar.