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Tróia Tropical
Tróia Tropical
Author: gustavoduffles

INSÔNIA

O ano era 1949. O Presidente americano Harry Todd assina alguns documentos enquanto descansa sobre a sua mesa um relatório elaborado pela sua equipe econômica. O relatório havia sido solicitado no mês anterior e sua entrega era aguardada com ansiedade pelo presidente. Naquele dia, reuniões e outros compromissos atrapalharam o início da leitura do relatório. Entretanto, ele não poderia esperar até o dia seguinte para saber o conteúdo e no final da tarde o relatório já estava dentro da sua pasta de couro. O destino era a sua casa.  

Já eram dez horas da noite quando o presidente, em sua poltrona favorita localizada estrategicamente ao lado da lareira, iniciou a leitura. Em sua companhia, seu cachorro deitado próximo aos seus pés e uma garrafa de uísque. A leitura era viciante e pouco depois das três horas da manhã ele resolveu se deitar. Entretanto naquela noite e nas noites seguintes quatro palavras que estavam no relatório assombraram a sua mente e o impediram de dormir: URSS, China, Índia e Brasil.

O relatório apontava quais países poderiam interferir e prejudicar os planos Norte Americanos de se tornarem uma potência mundial hegemônica no mundo.  Os Estados Unidos precisavam monitorar esses países de perto, precisavam ainda ter a Europa ocidental como sua aliada.

Com o término da segunda guerra, o mundo havia mudado bastante e duas grandes forças haviam emergido: Estados Unidos da América e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A Europa não era mais o centro do mundo, e os olhos se voltavam para os dois países.

O relatório exigia algumas medidas emergenciais. O Comunismo era visto como o principal inimigo do mundo ocidental desde o início da segunda guerra. A União Soviética era o inimigo mais urgente. Ter aliados fortes era importante. O primeiro passo foi a implementação do  Plano Madrid em 1947, em homenagem à cidade na qual foi assinado. Tratava-se de uma ajuda econômica às nações europeias aliadas, destruídas pela segunda guerra. Em seguida, em 1949, era criada a OTAN, Organização do Tratado do Atlântico Norte, cujo objetivo era criar uma força militar conjunta, um sistema de defesa coletivo para os países membros. Nascia ali a Doutrina Todd, um conjunto de ações econômicas, diplomáticas e militares que visava “frear o avanço do comunismo no mundo”.

 A China era tratada dentro dos Estados Unidos como um “caso perdido”. A Revolução Comunista Chinesa iniciada em 1946 e comandada por Mao Tse-Tung acabou levando à criação da República Popular da China ainda no ano de 1949. Era uma ameaça amarela, de médio prazo, pois apesar da grande população, era um país extremamente agrícola. Com um regime extremamente fechado e o apoio dos soviéticos, o relatório apontava que era praticamente impossível impedir que a China, caso se tornasse uma nação comunista, atingisse na virada do século o posto de primeiro ou segundo maior inimigo dos Estados Unidos, ao lado da União Soviética. 

 A Índia, que recentemente tinha conseguido sua independência frente à Grã-Bretanha, era monitorada através de agentes locais. No relatório não era tratada com urgência, afinal era um país de “terceiro mundo” tentando se organizar politicamente após uma independência recente, mas sua imensa população e sua localização, próximo à China e União Soviética tornava qualquer aproximação complicada. 

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