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Capítulo 6 - O Beijo do Lobo

3 dias, minha mãe disse. Passei 3 dias desacordado, nesse meio tempo, mais desaparecimentos. Melídia veio me visitar, acompanhada de Mike, ele que não queria que ela seguisse sozinha por essas bandas. Meu ataque sofrido confirmou o que todos desconfiavam, os lobos voltaram, se é que tinham sumido. Matt também veio me visitar, para minha surpresa, minha mãe disse que achava plausível sua visita, uma vez que nos conhecíamos desde sempre. 

Eu ri, fazendo meu torso doer, Matt me odeia, disse pra ela. 

- Como foi? - Meu pai perguntou, sentando na cama e pondo uma mão na minha cabeça. Já havíamos nos acostumados com o frio, mas ele poderia ser fatal na minha situação. 

- Tinha 2, um negro enorme, eu quase não o enxerguei na tempestade de névoa, foi ele que fez isso...- Apontei para os meus ferimentos.

- E o outro? - Relutei um pouco. 

- Bem... Eu já tinha o visto antes - Meu pai pulou da cama. Gritou por que eu não tinha o avisado? Por que não avisei minha mãe? O Lorde da aldeia? Falei que tinha medo que ninguém acreditasse em mim. 

- E o que esse outro lobo fez? - Perguntou mais calmo.

- Ele... Ele pulou em cima do outro lobo, acho que brigavam por território - Meu pai não se satisfez com minha explicação, com a expressão curiosa ele se retirou. 

Nos dias que passei apagado, houveram mudanças significativas, agora haviam guardas do Lorde vigiando cada área da aldeia e alguns vigiando minha passagem até minha casa. Me tranquilizava mais, mas me deixava sem jeito. Vários homens armados por minha causa. 

- Como você está? - Perguntou Melídia me abraçando forte, soltei um "ai" e isso fez ela me soltar pedindo desculpas. 

- Bem, eu acho - Ela sorriu e entrelaçou o braço no meu. Seus olhos estavam vermelhos e isso era muito chamativo. 

- Você andou chorando?

- Você descobriu? - Perguntou irônica, passando as mãos de leve sobre os olhos. 

- O que aconteceu?

- Mike...

- Ele foi levado? - A interrompi.

- Não, acharam a irmã dele... - Rapidamente eu a entendi. 

- Ele chorou muito e está furioso, isso eu não entendi. Sei que ele se voluntariou pra vigiar o bosque durante a noite, quer caçar os lobos junto dos outros. 

- Eu sinto muito. 

- Tudo bem, eu vou ficar bem e sei que ele também vai. 

Nada poderia ficar mais diferente de uma hora pra outra do que o clima que a população exalava, estava tudo em cores frias e mais sombrio. Até Matt passou por mim sem pegar no meu pé, nem sequer olhou dessa vez. Na aula de treinamento, o professor me pediu para ir até ele enquanto os garotos estavam todos sentados em uma bancada improvisada. Morri de vergonha sentindo o olhar de todos sobre mim. 

- Pessoal, Jonathan está com problemas - Olhou pra mim e sorriu dando uma piscadela. 

- Ele é muito ruim no combate - Isso arrancou gargalhadas estrondosas de todos, menos Matt. 

- Calma pessoal, vou precisar de um treinador assistente pra cuidar dele pessoalmente, treiná-lo e ajudá-lo até o Baile de Neve, de lá, só depois das férias - A essa altura eu só encarava Matt que me encarava de volta com o olhar sério, intimidador. Me senti invadido. 

- Professor - Ele levantou a mão. 

- Matt? 

- Eu posso treiná-lo - Isso automaticamente fez os risos pararem. O meu "rival" agora iria me treinar e isso me proporcionou uma onda de arrepios ao sentir seu olhar interligado ao meu. 

- E Alec? - Perguntei a Melídia na saída da escola. 

- Apareceu um dia depois do seu ataque, finalmente. Mike até ficou feliz, mas não veio pra escola. Ele perguntou por você - Ela tentava forçar um sorriso, mais obviamente estava chateada. 

- O que você disse? 

- Que ainda estava de cama. 

- E por que ele não veio hoje? 

- Deve ter se voluntariado também, o professor de combate disse que isso os acrescentaria pontos extras, muitos pontos. 

Isso explicava a falta notável do grupo dos melhores combatentes, fora Matt e o que eu confundi com Alec dias atrás, mais tarde descobri se chamar Liam. 

Na volta pra casa, os guardas ainda estavam lá, obviamente. Me olhando enquanto eu caminhava pelo meio da estrada, a vergonha me consumia e isso me levava a cobrir meu rosto com o capuz da capa. 

Cada dia que se passava se tornava mais assustador, e conforme avançavam, iam de frente com o Baile de Neve, a mais feliz das nossas tradições. Que ironia. 

Fora em mais uma das tempestades que assolavam a região, forte, cobria tudo. Pela janela do meu quarto, que ficava do lado de trás da nossa casa. Eu o enxerguei por pouco, sentado sob as patas traseiras, me encarando. O temível lobo branco, ele tinha salvo a mim da última vez e eu não entendia porque. 

As baboseiras que o professor de Criaturas Sombrias fala eram verdades? 

Ele não desgrudou o olhar do meu e quando me abaixei para poder olhar mais de perto, ele sumiu, eu pensei pelo menos, mas logo abriu os olhos de novo. Simplesmente incrível. Suas orbes verdes miradas na minha direção. Tão encantador. 

Obrigado, eu sussurrei como um idiota e logo me repreendi por agir como um maluco. Ele não me ouviria e também não me responderia. Virou de costas e saiu. 

Minhas suspeitas foram confirmadas, não era ele que conversava comigo. 

No dia seguinte, eu finalmente encontrava Alec depois de semanas sem o ver. Ele sorriu ao me ver e eu retribui o sorriso. 

- Não tem de que - Respondeu David passando por mim e me deixando sem entender nada. Olhei pra Melídia com interrogação e ela deu de ombros. Logo esqueci também. 

Naquele fim de tarde, um imprevisto tirou os guardas do meu caminho, tinham sido removidos para tentar compreender o que acontecia do outro lado. Uma multidão fazia um círculo com sabe-se-lá-o-que. Eu segui firme pelo meu caminho. 

Minha curiosidade era maior que meu medo agora. Eu queria entender o porquê de ele viver em meu encalço. 

E o vi, deitado agora no topo de um barranco, coberto pelas camadas de neve. 

- É-é você quem fala comigo? - Perguntei, minhas esperanças não tinha morrido ainda. 

- Aqui não é seguro - De susto, cai pra trás. Um tufo de pelos branco do lobo estava avermelhada, deduzi ser sangue e estava certo. Ele tinha falado, falado de verdade, ou só eu o escuto?

Ele veio até mim e parou em minha frente. 

Me arrepiei dos pés à cabeça. 

- Eu disse que aqui não é seguro - Rosnou, me assustando mais ainda.

- Eu consigo ouvir você - Em choque, estendi a mão frente a sua cara, ele escondeu os dentes de volta e após vários segundos sem interromper o contato visual, ele lambeu. 

Sem revisão

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