- Uma lenda antiga dizia que os lobos que vagam por aí, estão a procura de sua alma gêmea - Alguns garotos riram fazendo brincadeiras com a declaração do professor. Ele que segurava o mesmo livro do resto dos anos anteriores, porém, nunca tinha tocado nessa parte. O que despertou meu interesse.
- Isso não quer dizer que eles deixam de ser perigosos. A lenda também afirmava que, aqueles cujo a alma estavam interligadas a do lobo, poderiam ouvir os pensamentos do mesmo, quase como se fosse outra pessoa falando ao seu lado - Pulei da cadeira quando o professor finalizou sua explicação sobre as Criaturas Sombrias, olhei de soslaio para Melídia que estava entretida em seu livro com as figuras da mesma. Do outro canto da sala, Matt me jogou uma bolinha de papel, somente para chamar minha atenção. Abri o papel para ler o que havia e não tinha nada. Esmaguei o papel de volta e deixei em minha mesa.
Ao fim da aula, quando todos seguiam rumo a fora, eu ia de encontro ao professor, que arrumava suas coisas em uma mochila de panos velhos.
- Professor? - Chamei-o.
- Sim, sr. Grimm? - Pareceu surpreso com a minha chamada, afinal, eu nunca tinha o chamado antes. Do fim da sala, vi Melídia parar pela minha espera.
- Existe alguém que possa afirmar que isso realmente existe?
- Ninguém, nunca foi comprovado, por isso me refiro à isso, assim como todos, como uma lenda - Finalizou terminando de guardar seus livros e seguiu rumo a fora.
- Mas e se acontecesse, o garoto que ouviu a... voz do lobo, estaria seguro? - Questionei.
- Sim, sendo sua alma gêmea, a proteção seria imediata - Concluiu e se foi. Melídia ainda me encarava confusa, mas logo achou a resposta que tanto procurava em seus pensamentos.
- Ainda o assunto do lobo? - Perguntou quando passamos pela porta. Eu assenti sem responder. Vi Mike beijá-la e andei para ao portão porque ele disse que a levaria em casa, o que eu fazia quando ela estava sozinha e eu não estava atrasado.
- Grimm?! - Ouvi alguém me chamar, me virei reconhecendo a voz familiar e doce de Alec. O que ele queria comigo?
- Pode me dar uma ajuda? - Mostrou os vários livros em uma caixa de madeira. Olhei em volta procurando por Matt, mas não o encontrei.
- E os outros? - Perguntei sem querer ser indelicado.
- Eles já foram, mas se não quiser ajudar tudo bem - Ele virou para entrar de volta, mas eu segurei seu ombro e disse que não. Que não tinha problema em ajudá-lo.
- Obrigado - Sorriu.
O acompanhei até a grande biblioteca empoeirada e cheia de mais livros velhos, livros que ninguém lia.
- A professora de Costumes me pediu para guardar eles, eu chamei Matt, mas ele estava ocupado e Mike vai levar a Melídia - Não havia mais ninguém na biblioteca além de nós.
Ajudei a organizar os livros, um por um, por seção é por páginas, ordens da professora, o que me fez me arrepender e muito de ter aceitado ajudar, mas o fato da presença de Alec ser agitada e fofa ao mesmo tempo me fez ficar distraído, o que levou um tempo e quando nos demos conta, o sol já havia se posto.
- Droga, você mora aqui pelo Bosque? - Perguntou quando paramos em frente ao portão, a ausência do Sol já surtia efeito e com a escuridão vinha o frio mais aguçado.
- Não, na verdade eu moro afastado da Aldeia, uns 10 minutos caminhando.
- Quer que eu leve você? - Ele perguntou apreensivo, se aproximando de meu corpo. Neguei com a cabeça.
- Você também não pode chegar tarde, a gente se vê - Ele estendeu a mão pra mim e eu apertei, quando na verdade devia fazer um toca aqui. Sorri envergonhado e sai sem olhar pra trás.
Eu nunca tentei me aproximar dele durante esses anos todos, embora saiba perfeitamente que ele é diferente dos outros garotos. Nada arrogante e muito menos como Matt. Já o vi namorando algumas vezes e isso me irritou, tanto que houve um período que eu passei a ignorá-lo, como se ele se importasse.
Ouvia meus passos sobre a neve e o barulho da brisa gelada passando por meus ouvidos e tocando meu rosto. De repente, ouvi outras pegadas, estas pesadas e logo pensei que fosse Alec, mas não tinha coragem o suficiente pra virar totalmente então simplesmente parei onde estava. Ainda longe da minha casa e longe da aldeia.
- Alec? - Perguntei ainda de costas. O tom trêmulo da minha voz era tão evidente que qualquer um que passasse por ali diria que eu estava chorando.
O rosnado entoou novamente. Isso me fez virar pra trás rapidamente e o vi mais um vez. O lobo branco, quase da minha altura.
Eu não conseguia dizer nada, só pensava nas aulas do professor e no que havia dito, obviamente com medo. Como ele disse, apenas uma lenda. Olhei ao redor e não tinha nada além de mato e neve. Ninguém me ouviria daqui.
- O que você quer? - Perguntei enfim. Ele avançou pra frente mostrando seus caninos longos e afiado e me derrubou no chão com sua pata enorme. Eu sabia que era estupidez essa história de ouvir lobos e que agora eu iria morrer.
Apertei os olhos com força de novo, o focinho dele estava tão perto quanto sua boca de mim. Minha visão ficou escura e eu senti meu corpo perdendo força, não conseguia aguentar o peso do lobo em cima de mim. Quando sua boca foi ao alto aberta e desceu em minha direção, prontamente para me devorar eu desmaiei.
•••
Acordei ao pé da escada da porta da minha casa, meio zonzo, me levantei atordoado olhando para todos os lados e fazendo barulho ao encostar nas tábuas da minha parede. Olhei pra floresta e para os arbustos, para o caminho abarrotado de neve e para o lago congelado na parte do lado da minha casa.- O que houve? - Minha mãe escancarou a porta, provavelmente por causa do barulho.- Eu acho que estou ficando louco - Disse-lhe. Ela me mandou entrar, não antes sem perguntar onde minha capa estava e só então eu me toquei de que estava sem ela.- Eu não sei...Eu - Respondi entrando em casa, buscando o conforto e o calor da minha cama. Tremendo. Por sorte, minha mãe não notou as marcas de garras em meus braços.Por que ele não me devorou? Como eu cheguei aqui?Estava tão flutu
Antes de Mike deixar Melídia em sua casa, enrolaram por tempo suficiente pra fazer todos, inclusive a mim, perder a paciência. Quando deram o beijo de despedia, suspiramos aliviados. Todos encararam Mike e ele soltou um "que foi?" Engraçado.Estávamos perto da casa de Alec e passando pela porta da casa de Matt, não evitei olhar para os detalhes internos e como estava diferente da última vez que a vi. Matt reparou meu olhar.- Saudades? - Sorriu convencido, seria um sorriso lindo, se não fosse dele. O ignorei andando mais de pressa acompanhando os outros.Matt poderia ser um insuportável, mas tinha sua beleza invejável. Ao chegarem na porta da casa de Alec, Mike foi o escolhido para bater. A mãe de Alec saiu, uma senhora bem vestida e da classe de burgueses do Bosque. Estranhou a presença de tantos jovens.- Sim?- Olá, senhora Williams, eu sou o Mike, amigo de seu filho
3 dias, minha mãe disse. Passei 3 dias desacordado, nesse meio tempo, mais desaparecimentos. Melídia veio me visitar, acompanhada de Mike, ele que não queria que ela seguisse sozinha por essas bandas. Meu ataque sofrido confirmou o que todos desconfiavam, os lobos voltaram, se é que tinham sumido. Matt também veio me visitar, para minha surpresa, minha mãe disse que achava plausível sua visita, uma vez que nos conhecíamos desde sempre.Eu ri, fazendo meu torso doer, Matt me odeia, disse pra ela.- Como foi? - Meu pai perguntou, sentando na cama e pondo uma mão na minha cabeça. Já havíamos nos acostumados com o frio, mas ele poderia ser fatal na minha situação.- Tinha 2, um negro enorme, eu quase não o enxerguei na tempestade de névoa, foi ele que fez isso...- Apontei para os meus ferimentos.- E o outro? - Relutei um pouco.- Bem... Eu já tinha o visto antes - Meu pai pulou
- Qual é o seu nome? - Antes que ele pudesse responder, ouvi gritos de guardas vindo com lanças afiadas e retirando espadas de suas bainhas. Ele poderia facilmente destroçar qualquer um ali, mas ele não o fez. Optou por sumir na neve. Alguns guardas o tentaram seguir, em vão.- Você está bem? - Disse um homem estendendo a mão pra mim, peguei sem pestanejar. Balancei a cabeça positivamente e levantei o olhar.- Levem ele para o castelo do Lorde Arvos.- Não precisa, eu estou bem, a minha casa é logo ali - Apontei.- É uma ordem - Dirigiu aos outros guardas, ignorando totalmente a mim e a minha subjeção. Em um instante, eu estava cercado por homens com armaduras, dois em minha frente e dois atrás, iniciando um percurso de retorno para a Aldeia. O povo me olhava receoso, como se eu tivesse cometido algum crime. Andamos até certo ponto, um pouco depois da praça, lá na frente, era uma carruagem que nos levaria até
Sem RevisãoSair do castelo durante a noite em que todos dormiam seria muito suspeito e poderia me custar uma noite inteira na prisão. Achei melhor esperar até o amanhecer e quando este chegou, não hesitei em dizer adeus ao Lorde. Ele mandou guardas me conduzirem, depois de me perguntar se eu gostaria de ficar para o almoço, eu recusei. Não vi o filho do Lorde desde a noite anterior e sinceramente, acho que isso foi uma coisa boa.Chegar atrasado na escola da aldeia não era algo comum pra mim. Melídia parecia cansada e Mike finalmente estava a seu lado, mas parecia apressado, como que já fosse em bora logo e assim o fez quando sentei perto dela.- Aconteceu algo?- Ele não vai ao baile comigo - Bufei em frustração, pensei um pouco sobre o que dizer e cheguei a uma conclusão.- Por que não vamos juntos? Tenho certeza que ele não iria se importar.- É, eu acho
Sem Revisão- Você não tá nem tentando! - O garoto gritou alto, me jogando no chão mais uma vez. Cansado, dolorido e com raiva. Matt parecia feliz em me jogar no chão de vez em quando, mas agora estava realmente impaciente. Era notável.- Eu não sei... fazer isso - Tentei levantar, mas senti uma dor no meu braço e logo levei a mão massageando o local. Enquanto eu gemia de dor, Matt simplesmente pegou suas coisas, seu casaco confortável e seguiu rumo à fora. Olhei ele sumir na entrada e me levantei em seguida. Merda. O que ele queria afinal? Me ajudar ou me treinar pra uma guerra?Encontrei ele no portão novamente. Ele estava parado, olhando pro caminho que seguia minha casa. Achei estranho seu comportamento, mas era justificável vindo de alguém como ele.- Por que sua casa é afastada da vila?- Meu pai perdeu a antiga casa no centro. Ele tinha muitas dívidas e você sabe, os impostos. Não
Sem Revisão- Eles estavam tão estranhos - Finalmente terminei de contar a Melídia o que havia acontecido entre mim e Matt e Alec, e por como eu passei por situações tão parecidas com ambos. Deitado sobre a cama da garota, observando seus traços enquanto ela terminava de se arrumar. Foi de sua própria insistência que eu contasse-lhe tudo antes de ir pra lá, pra não ir agindo de maneira estranha.Ela sorriu quando eu terminei de contar a história, olhou pra mim e pôs seu casaco mais confortável, também o mais bonito. Ela estava linda.- Garotos são estranho as vezes, John. Pronto? - A sua casa ficava perto do centro, mesmo assim, teríamos que andar alguns minutos até a praça. Foram minutos bem congelantes, ainda mais pra mim, que pela primeira vez, saía sem minha capa. Quando chegamos perto da entrada, enfeitada de diversas maneiras. Algumas pessoas instantaneamente nos encararam, com certeza olhavam pra Melídia e todo seu esp
Por um instante, meu cérebro me disse que tudo não passava de um sonho, que nada tinha acontecido, uma ilusão fria de um pesadelo das muitas noites de neve. Mas no fundo, eu sabia que todas as sensações que passei foram reais. O medo, uma energia tão poderosa tomando meu corpo e como isso me esgotou fisicamente. Eu queria abrir os meus olhos, mas não tinha forças o suficiente, de algum modo, eu estava fraco demais pra tentar qualquer movimento. Enquanto minhas forças falhavam, a audição parecia se apurar. Conseguia ouvir ruídos em minha volta, passos, conversas saindo como cochichos.Eu queria gritar o único nome que vinha na minha mente agora. Matt, Matt, Matt. O único de quem eu me lembrava de verdade antes de cair em sono profundo.- John?! Onde você está? - Ouvi a voz perpetuar dentro da minha cabeça e me desesperei. De início, pensei que ele estava falando no lugar onde eu estava.- Matt?! Você tá bem? Eu não vejo você,