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Capítulo 3 - Criaturas Sombrias

- Uma lenda antiga dizia que os lobos que vagam por aí, estão a procura de sua alma gêmea - Alguns garotos riram fazendo brincadeiras com a declaração do professor. Ele que segurava o mesmo livro do resto dos anos anteriores, porém, nunca tinha tocado nessa parte. O que despertou meu interesse.

- Isso não quer dizer que eles deixam de ser perigosos. A lenda também afirmava que, aqueles cujo a alma estavam interligadas a do lobo, poderiam ouvir os pensamentos do mesmo, quase como se fosse outra pessoa falando ao seu lado - Pulei da cadeira quando o professor finalizou sua explicação sobre as Criaturas Sombrias, olhei de soslaio para Melídia que estava entretida em seu livro com as figuras da mesma. Do outro canto da sala, Matt me jogou uma bolinha de papel, somente para chamar minha atenção. Abri o papel para ler o que havia e não tinha nada. Esmaguei o papel de volta e deixei em minha mesa.

Ao fim da aula, quando todos seguiam rumo a fora, eu ia de encontro ao professor, que arrumava suas coisas em uma mochila de panos velhos.

- Professor? - Chamei-o.

- Sim, sr. Grimm? - Pareceu surpreso com a minha chamada, afinal, eu nunca tinha o chamado antes. Do fim da sala, vi Melídia parar pela minha espera.

- Existe alguém que possa afirmar que isso realmente existe?

- Ninguém, nunca foi comprovado, por isso me refiro à isso, assim como todos, como uma lenda - Finalizou terminando de guardar seus livros e seguiu rumo a fora.

- Mas e se acontecesse, o garoto que ouviu a... voz do lobo, estaria seguro? - Questionei.

- Sim, sendo sua alma gêmea, a proteção seria imediata - Concluiu e se foi. Melídia ainda me encarava confusa, mas logo achou a resposta que tanto procurava em seus pensamentos.

- Ainda o assunto do lobo? - Perguntou quando passamos pela porta. Eu assenti sem responder. Vi Mike beijá-la e andei para ao portão porque ele disse que a levaria em casa, o que eu fazia quando ela estava sozinha e eu não estava atrasado.

- Grimm?! - Ouvi alguém me chamar, me virei reconhecendo a voz familiar e doce de Alec. O que ele queria comigo?

- Pode me dar uma ajuda? - Mostrou os vários livros em uma caixa de madeira. Olhei em volta procurando por Matt, mas não o encontrei.

- E os outros? - Perguntei sem querer ser indelicado.

- Eles já foram, mas se não quiser ajudar tudo bem - Ele virou para entrar de volta, mas eu segurei seu ombro e disse que não. Que não tinha problema em ajudá-lo.

- Obrigado - Sorriu.

O acompanhei até a grande biblioteca empoeirada e cheia de mais livros velhos, livros que ninguém lia.

- A professora de Costumes me pediu para guardar eles, eu chamei Matt, mas ele estava ocupado e Mike vai levar a Melídia - Não havia mais ninguém na biblioteca além de nós. 

Ajudei a organizar os livros, um por um, por seção é por páginas, ordens da professora, o que me fez me arrepender e muito de ter aceitado ajudar, mas o fato da presença de Alec ser agitada e fofa ao mesmo tempo me fez ficar distraído, o que levou um tempo e quando nos demos conta, o sol já havia se posto.

- Droga, você mora aqui pelo Bosque? - Perguntou quando paramos em frente ao portão, a ausência do Sol já surtia efeito e com a escuridão vinha o frio mais aguçado.

- Não, na verdade eu moro afastado da Aldeia, uns 10 minutos caminhando.

- Quer que eu leve você? - Ele perguntou apreensivo, se aproximando de meu corpo. Neguei com a cabeça.

- Você também não pode chegar tarde, a gente se vê - Ele estendeu a mão pra mim e eu apertei, quando na verdade devia fazer um toca aqui. Sorri envergonhado e sai sem olhar pra trás.

Eu nunca tentei me aproximar dele durante esses anos todos, embora saiba perfeitamente que ele é diferente dos outros garotos. Nada arrogante e muito menos como Matt. Já o vi namorando algumas vezes e isso me irritou, tanto que houve um período que eu passei a ignorá-lo, como se ele se importasse.

Ouvia meus passos sobre a neve e o barulho da brisa gelada passando por meus ouvidos e tocando meu rosto. De repente, ouvi outras pegadas, estas pesadas e logo pensei que fosse Alec, mas não tinha coragem o suficiente pra virar totalmente então simplesmente parei onde estava. Ainda longe da minha casa e longe da aldeia.

- Alec? - Perguntei ainda de costas. O tom trêmulo da minha voz era tão evidente que qualquer um que passasse por ali diria que eu estava chorando.

O rosnado entoou novamente. Isso me fez virar pra trás rapidamente e o vi mais um vez. O lobo branco, quase da minha altura.

Eu não conseguia dizer nada, só pensava nas aulas do professor e no que havia dito, obviamente com medo. Como ele disse, apenas uma lenda. Olhei ao redor e não tinha nada além de mato e neve. Ninguém me ouviria daqui.

- O que você quer? - Perguntei enfim. Ele avançou pra frente mostrando seus caninos longos e afiado e me derrubou no chão com sua pata enorme. Eu sabia que era estupidez essa história de ouvir lobos e que agora eu iria morrer.

Apertei os olhos com força de novo, o focinho dele estava tão perto quanto sua boca de mim. Minha visão ficou escura e eu senti meu corpo perdendo força, não conseguia aguentar o peso do lobo em cima de mim. Quando sua boca foi ao alto aberta e desceu em minha direção, prontamente para me devorar eu desmaiei.

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